Você já tentou formatar um projeto, estruturar uma ideia e sentiu que isso lhe limitou? Você já sentiu isso?
Na perspectiva da cosmogênese, o princípio de tudo é o vazio, o nada, o não planejado e estruturado. O círculo representa esse vazio do princípio masculino que sustenta o surgimento de tudo. Nele está o potencial do todo. Nele está o infinito e o finito.
Sendo assim, o finito não é o oposto do infinito, mas apenas, por assim dizer, um excerto dele, não existem fronteiras entre eles. Por isso podemos ver o mundo num grão de areia. (Ken Wilber)
Em seguida surge o ponto. No ponto há o todo com seu potencial contido a ser manifesto, o potencial do uno, o princípio feminino. Como no Bhagavad Gita: “do umbigo de Vishnu nasce a flor de lótus, e dela sai Brahma. Com seu primeiro suspiro nasce o universo”
A partir desse ponto surge também a dualidade. Como no movimento de divisão celular, dos dois compõem a vida. Da união de dois círculos nasce a vesica piscis, a base de toda a configuração do universo. Ela está presente em tudo na configuração do universo, da realidade como a entendemos.
Mas para o "um" vir ao mundo, e em seguida vir o dois, é necessário que se tenha um objeto tridimensional, pois assim está configurada essa realidade, 3D. Assim nasce o 3, a trindade, o espírito.
“O número 3 resolve o impasse do número dois e transforma dualismo em harmonia e unidade” ~Pitágoras
Mas a esse espírito é necessário dar forma. Surge então o quatro, o quadrado. Sensação de contenção segura que nos ajuda a concentrar com precisão a atenção. Fator decisivo de ordenação. No quatro tem o poder do fim e do início. 1+2+3+4= 10= 1. Nele inicia o princípio simbolizado pelo verbo.
“O um torna-se dois, dois torna-se três, e do terceiro surge o um como o quatro” ~Maria Prophetissa
É apenas a partir da forma, do quarto estágio, que podemos explorar as possibilidades internas de algo. No meu momento atual, de formatação do meu processo autodirigido de aprendizagem, estou enfrentando esse desafio. Como dar forma a esse turbilhão da mente? Como materializar a mente?
Algum lugar em mim diz que formatar é limitar. Mas quando me lembro dessa história da cosmogênese que tanto me encanta eu entendo que a restrição traz também em si o ilimitado.
Podemos escrever romances, teorias, cartas de amor ou ordens judiciais — apenas reorganizando 26 letras limitadas. E isso certamente não é possível apesar da restrição a 26 letras, mas por causa dela. O código binário, por exemplo, é radicalmente mais limitado que o alfabeto, pois contém apenas dois estados, um ou zero, mas a partir dele abriu-se um leque de possibilidades criativas sem precedentes que revolucionou o mundo como o conhecíamos.
Sem estrutura, não podemos diferenciar, comparar ou experimentar ideias. Sem restrições, nunca seríamos forçados a tomar a decisão sobre o que vale a pena perseguir e o que não vale.
Na restrição está contido também o ilimitado, na matéria está o sagrado, e na indecisão a escolha do acaso.
Com amor,
Gabriela.