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  • Gabriela Moreira

Por quê o mundo precisa DE mais facilitadores?

Atualizado: 9 de out. de 2023

Por quê a facilitação é uma habilidade revolucionária e para qualquer pessoa?


Estamos em um contexto em que temos a maior quantidade populacional da história e ao mesmo tempo temos o maior índice de solidão de todos os tempos. Por quê mesmo rodeados de tantas pessoas nos sentimos só?


Existem infinitas respostas para essa questão: Byong em a sociedade do cansaço diria que é o senso de individualidade que vem causando isso, os geógrafos diriam a globalização e o fato de como as cidades verticalizadas não permitem a criação de comunidades. Nesse artigo, entretanto, vou me ater a uma coisa: o design.


Existe um design "invisível" por trás de todo contexto que visitamos ou vivemos, regras que compõem aquele espaço. A maior parte delas nem estão postas, nem sabemos que é uma "regra".


Porque você entra em uma sala e diz bom dia e não qualquer outra coisa? Por que no supermercado você não pede desconto mas na hora de comprar um curso sim? Por que na festa do trabalho você vai com um tipo de roupa e em casa você usa outras roupas? Existem milhares de coisas que fazemos, nos mais diversos espaços, que nem nos damos conta do por que fazemos. Fazemos apenas por estar no senso comum, porque é daquela forma, porque sempre foi assim. Isso não é ruim, nem é bom e o fato de não colocar isso em nenhuma dessas duas categorias nos permite experienciar e ir mais fundo.


Pensa em um jogo que você curtia quando criança ou que ainda hoje te anima. Como ele funciona? Como ele foi criado? Quem criou? Quem fez as regras dele? Quem disse que só pode jogar a bola com o pé? Comumente, nós apenas recebemos o jogo pronto e jogamos, não participamos da construção dele, não temos a possibilidade de modificá-lo à medida que é jogado. Apenas se joga. E o que isso tem a ver com a situação da solidão que trouxe no início do texto?


Nos foi dado um tabuleiro de jogo da competição, da individualidade, da hierarquia. E nós apenas jogamos esse jogo. Se você parar para observar existem inúmeras coisas projetadas e desenhadas para que não haja coletividade, comunidade: as telas, o formato quadrado das mesas, salas de aula em fileiras, carros e mais carros, prédios em que você nem conhece o vizinho.


Tem uma frase do nosso amigo Winston Churchill que adapto aqui para: Nós moldamos nossos espaços e depois eles nos moldam. Nossos espaços, cultura, ambiente, pessoas, nos influencia muito mais do que imaginamos. Em um texto de um moço que muito admiro, Alex Bretas, ele traz como é um mito o fato de apenas a mentalidade, o tal do mindset, moldar nosso comportamento. "A Ideia da Mentalidade Que Move Montanhas se esquece do fato de que nós imitamos o que outras pessoas pensam e fazem, somos atravessados pelas emocionalidades de nossas comunidades (apreciação e julgamento, por exemplo), procuramos não sair do padrão em quase tudo e vivemos nossa realidade de maneira gregária. Não é que o mindset não seja importante – é que outras coisas são consideravelmente mais importantes."


Temos nossas vidas moldadas por pessoas, estruturas e propósitos que até mesmo desconhecemos. Por exemplo, o propósito de hierarquia que está presente em quase todos os lugares. Se tivéssemos consciência disso e sentíssemos a dor que isso causa em nós e nos outros esse propósito nos espaços já teria se transformado, já teríamos deixado de ver uma pessoa "famosa" passar por nós e tratá-la como superior a nós. O design tem um papel fundamental nisso tudo, porque a partir dele recuperamos o poder de redesenhar o tabuleiro do jogo que jogamos, não a partir apenas da mentalização, mas sim da ação, do ambiente, dos sentimentos, das relações;


E o que design e a facilitação tem relação com tudo isso até aqui? TUDO! Você já já vai entender.


No artigo Metadesign, Jogos e Tranformação Cultural, Caio Vassão traz 4 papéis que acontecem em diferentes espaços da vida e da sociedade, e que vai ser muito útil para chegarmos a: o que é um facilitador, qual a relação disso com design e por que facilitação é uma habilidade revolucionária e o mundo precisa mais disso. Esses papéis são: "o jogador", "o arbitro", "o inventor" e o "facilitador".


O jogador é aquele/aquele quem experimenta o jogo, a realidade. Ele faz isso aprendendo, mesmo que rapidamente e superficialmente, as regras do jogo. O jogador faz parte desse contexto como sendo parte dele, e dependendo da qualidade desse jogo, pode até esquecer que está em um jogo e que pode mudar de jogo a qualquer momento. É como quando você entra em uma sala de cinema e se vê totalmente dentro do filme, como se você estivesse lá.


O árbitro é aquele que garante que as regras do jogo sejam respeitadas e que a “ilusão” de estar em um jogo não seja desvendada. Na maior parte dos contextos, o papel do árbitro está distribuído entre os jogadores — todos os jogadores se observam mutuamente e garantem que as regras sejam respeitadas. Quando você veste uma roupa diferente para ir pro trabalho, por exemplo, e seu chefe te adverte. Não foi ele quem criou essa regra "use o uniforme", mas mesmo assim está assegurando que ela seja cumprida e que a "ilusão" de jogo trabalho não seja destruída.


O terceiro papel é quase sempre esquecido porque como quase todos nós fomos para a escola, pensamos que não podemos desempenhá-lo, que é o INVENTOR. Acreditamos, mesmo que em nosso inconsciente, de que é um papel especial, que não somos bons o suficiente para criar algo e ele é provavelmente reservado para pessoas especiais e/ou em posições sociais especiais. O inventor é quem desenha o contexto, o mundo de jogo como chamamos no Possibility Managment (em breve vai sair um texto sobre isso também), as regras e os limites do jogo.


São 3 escolhas que nos são apresentadas. Ou eu invento o contexto, ou eu julgo se as coisas que estão acontecendo nele estão de acordo com as regras ditadas pelo inventor ou eu apenas jogo e aceito que as regras são aquelas, e na sociedade patriarcal em que vivemos, somos incentivados a basicamente sermos jogadores.


Isso em uma empresa "normal", como temos hoje seria: O cara (99% das vezes branco, hétero) que cria o mundo de jogo da empresa, as regras, o que vai ser, como as coisas acontecem, o inventor. Tem os "coordenadores", gerentes que vigiam e asseguram que os jogadores não vão descumprir com as regras escritas. E por fim, tem os jogadores que conhecem as regras, e às vezes nem tanto assim, e jogam esse jogo, como peões em um tabuleiro.


E qual o problema dessa estrutura? O que está faltando nela?


O problema é que ela não acompanha o design maior, o design da natureza. E qual é o design da natureza? Transformação, mudança, evolução. A todo momento a natureza está se transformando. Se você tirar 20 minutos do seu dia para observar um pássaro, uma árvore, um rio, você com certeza vai conseguir enxergar isso. Essa estrutura que quase todos os espaços que a espécie humana construiu e habita está desenhada com propósitos hierárquicos, destrutivos e genocidas. Esse design que projeta e constrói os espaços hoje mata a natureza que há em nós, suga o nosso poder inato, deixa o solo totalmente infértil para nos transformar, evoluir e criar.


Você pode olhar, nas escolas, empresas, supermercados, parques, academias, temos jogadores, árbitros e inventores. E que outra possibilidade temos além disso? Que outro papel está tentando ser apagado?


O papel da facilitadora, do facilitador.


O facilitador ou amparador de espaços (como chamamos no contexto do Possibility) tanto atua como jogador, tanto árbitro e tanto como (re)inventor do jogo, da realidade, do mundo de jogo. O facilitador joga o jogo, ele percebe como o jogo está se desenrolando. Atua também como observador das "regras" daquele espaço e garante que a coerência e a coesão desse jogo se mantenha durante a experiência. No entanto, quando alguma dessas regras já inventadas não estão dando conta do que está rolando — algo “dá errado”, os tempos não estão sendo suficientes, o que está sendo proposto não funciona — o facilitador atua como INVENTOR, e altera ou ajusta as regras e os elementos do jogo para que a qualidade do espaço seja restabelecido, para que a evolução aconteça, para que a transformação prospere.


Apesar de ser uma nomenclatura contemporânea, ela está, na verdade, ligada a um papel muito antigo e profundo, que é comumente excluído das atividades do mundo atual, por um motivo óbvio: As pessoas que estão no topo da hierarquia não querem que o jogo seja reinventado, pois assim, eles sairiam do poder!


E o que o FACILITADOR faz na prática? "O facilitador é aquele que conduz a atividade, observa a qualidade da interação entre as pessoas, se baseia nas “regras” (propostas por ele ou ela mesma, ou propostas por outras pessoas). E, caso perceba que a interação não está correndo com a qualidade que poderia, o facilitador interfere na situação em andamento — até mesmo nas “regras do jogo” — para que a interação aconteça com o máximo de qualidade." (Caio Vassão)


(Imagem retirada do artigo do Caio Vassão)


O FACILITADOR tem uma experiência “cosmológica” da vida, ele experiencia o jogo no “quente”, enquanto ele está “rodando”, “no momento”, ele é o metadesign da vida (Caio Vassão). Ele é o guardião do propósito daquele contexto, experiência, realidade. Ele não vê as coisas de fora, afastado como inventor, ele pelo contrário, inventa novas regras com o jogo em andamento, sem ter que “pausá-lo”, ele observa as consequências da sua intervenção logo em seguida, no momento presente. O facilitador faz as mudanças a partir de dentro da experiência, e por isso mesmo tem consequências diretas para o andamento naquela realidade. Ele compreende suas possibilidades criativas de intervir no “calor do momento”, está comprometido com o propósito do espaço. Assume responsabilidade radical por ser guardião do propósito e sustentá-lo.


Tá, ok! Bonito o discurso, mas como fazer isso? Como deixarmos de sermos jogadores, árbitros e inventores e passarmos a sermos facilitadores? Para sermos facilitadores precisamos nos tornarmos seres humanos conscientes. Precisamos desenvolver uma série de habilidades nas quais a maior parte de nós somos analfabetos, porque não aprendemos isso nas escolas ou universidade. Algumas dessas habilidades são: presença, centramento, divisão de atenção, conexão com os sentimentos, criação de espaço energético, clareza, princípios brilhantes, clareza de propósito...


Por isso quando digo facilitador, não falo apenas das pessoas que "facilitam" encontros (e que na maior parte das vezes não facilitam de verdade, agem mais como árbitros/ professores), mas falo de seres humanos conscientes de seus propósitos e empoderados de sua própria natureza. Não precisamos de facilitadores apenas nos espaços de aprendizagem (mas também). Precisamos de facilitadores nas casas, nas vilas, nas escolas, nos hospitais, nas universidades, nas ruas.


O Possibility Management traz ferramentas poderosas para que essas habilidades possam ser desenvolvidas e para que você possa conseguir criar espaços não apenas para os outros, mas também na sua vida, de forma extraordinária e transformacional. Pensando nisso, quero compartilhar um pouquinho do que venho aprendendo e vivendo sobre facilitação nesses últimos tempos desse lugar que trago neste texto. Facilitar como um ato revolucionário e transformador de reconexão com a nossa natureza interna e de redefinição do nosso tabuleiro de vida.


Se você quer saber mais sobre isso, te convido a participar da oficina online que vai rolar no dia 26 de julho, terça-feira. Das 19h às 21h. O tema será: Por quê a facilitação é uma habilidade revolucionária e para qualquer pessoa?


Para se inscrever e experimentar na pele esse tema clique aqui!


Com amor e aventura, Gabriela


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