A escola tem um currículo oculto que atua nos panos de fundo da alfabetização, da matemática, da ciência, e do famoso: 'o que você quer ser quando crescer'.
Esses tópicos, matérias, são na verdade uma fachada, um disfarce para o que realmente esta a acontecer por trás das cortinas.
A prova disso é que se você perguntar pra qualquer pessoa que saiu da escola, há 10, 5 ou até 2 anos, o quanto ela se lembra desses conteúdos, a resposta que você vai obter é um número por volta de 95%, e olha lá. Você por acaso se lembra da fórmula de Baskara? Ou daquelas fórmulas gigantes de física?
No entanto, tenho certeza que você se lembra:
Da vez tentou falar na frente da turma e foi humilhado ou sofreu algum tipo de bullying;
Do momento com os amigos no recreio em que aprendeu a negociar, se relacionar, se expressar;
Do professor alquimista que fazia você enxergar a vida e todo o mundo de forma diferente;
Do momento que estava com muito medo de não passar de ano e ficar separado de seus amigos;
O que realmente fica da escola não são as matérias. São os momentos. E alguns desses momentos contém um currículo oculto que se mantém com a gente pelo resto da vida. E sobre esse currículo ninguém fala.
Existe um thoughtware, uma forma de pensar que é muito mais impregnante, que podem passar anos, décadas e ele continua atuando em você: o constructo da escola. Ele é tão velado, arquitetado e escondido para quem está dentro do sistema que você provavelmente foi capaz de passar toda sua vida sem se dar conta de que ele gere sua vida, sem se dar conta de que você ainda está na escola!
E qual é esse currículo oculto da escola que ainda está atuando nas escolas e também em você (mesmo que já tenha saído da escola) ?
📌"Se eu errar, sou um fracasso. Posso não passar de ano."
Nesse constructo da escola o erro é punido de todas as formas; Você pode ser separado dos seus colegas porque errou, porque não colocou a resposta que dizem ser certa. O erro pra uma criança muitas vezes é quase equivalente a morte.
E quer que eu te prove como você não esqueceu isso? Pensa em quantas vezes você deixou de começar algo porque lá no fundo você tinha medo de errar? Quantas vezes você nem tentou algo porque sabia que ia receber um feedback? Quantas vezes você recebeu um feedback e ficou gastando sua energia criando histórias sobre como você é um merda e não é bom o suficiente.
📌Para ser aplaudido, reconhecido e visto você precisa ser o melhor.
Estude para tirar melhores notas, treine para ganhar ouro, se esforce para conseguir uma vaga. Cria-se uma relação interna e imediata de: para ser amado, reconhecido eu preciso me esforçar, eu preciso fazer. As consequências disso na vida é que você está sempre a procura de uma aprovação. Você não tem sua voz e sua autoridade. Você espera pelo julgamento do outro. Você vive sua vida a medida do que o outro tecla sobre você.
Além disso, "ser o melhor" pressupõe que existe um 'pior'. Isso naturalmente instaura a competição na forma de pensar. Você dedica grande parte da sua energia pensando em como ser melhor. Em como derrubar seus amigos, em como chegar mais rápido, em como dizer mais bonito, em como aparecer mais.
📌"Lobo solitário"
Estamos em um contexto em que temos a maior quantidade populacional da história e ao mesmo tempo, temos o maior índice de solidão e suicídio de todos os tempos. Por quê mesmo rodeados de tantas pessoas agimos como lobos solitários?
Nesse constructo da escola ganha quem tira a maior nota. Quem é o mais 'inteligente'. Nele aprendemos quase por osmose a competir. Esse propósito serve a um objetivo político de manter você acreditando de que você está sozinho e tem de acumular individualmente. Se esse propósito deixar de ser propagado nas escolas 'economia' para. Os lucros congelam, o PIB diminui e a espécie humana prospera com gaia.
📌O professor sabe mais do que eu.
Sempre a procura de uma autoridade externa pra você entregar o seu centro e se livrar da responsabilidade do seu próprio caminho; O constructo da escola tem como eixo central o controle, a obediência, aprendemos desde criança a entregar nosso centro de poder, nossa voz, a delegar nossas decisões, até a perguntar se 'posso ir ao banheiro'.
Como isso ainda está em você? Você entra em um ônibus, vê uma mulher sofrendo assédio e finge que não viu, porque acredita que é responsabilidade da polícia fazer algo. Você está em uma reunião do trabalho e deixa de trazer sua perspectiva sobre aquilo, porque o chefe não vai 'gostar'. Você procura um guru que vai te dar todas as respostas e soluções pra sua vida. Você corta as suas raízes com gaia esperando que alguém venha te nutrir.
📌Respostas certas são mais importantes do que perguntas.
A curiosidade e as perguntas são assassinadas. Se passa mais tempo colocando coisas e mais coisas na cabeça do que abrindo espaço pra perguntas genuínas. Fica abitolado em apenas uma resposta certa; Como isso ainda está em você? Você entra em uma conversa ser a ser, e está tão preocupado em encontrar A resposta certa que mata a oportunidade de criar conexão e intimidade com aquele ser humano na sua frente.
📌Uma vida a espera do recreio.
Desde muito pequeno você preza pelo futuro, pelo 'quando acabar'. Quando passar de ano eu vou poder aprender música. Quando acabar esse dever posso brincar. Quando sair da recuperação posso voltar a jogar video-game. Quando entrar na universidade vou ser feliz. Quando chegar as férias vou pintar e escrever poesia. Desde muito cedo você aprendeu a vender o hoje pra ter o amanhã. Se tornou prostituto do sistema e do tempo.
Essa parte do constructo da escola fica muito claro quando você conversa com qualquer pessoa na rua indo ou voltando do trabalho: 'quando chegar o fim de semana vou poder estar com meu filho'
📌Uma vida em um mundo de fantasia
A escola é totalmente desconexa da realidade. Aprende-se sobre os planetas, coisas que aconteceram a séculos atrás, aprende-se sobre química, mas não se aprende a cozinhar, a se relacionar, a ter saúde, a sentir, a se comunicar, a colocar limites, a estar presente, a lidar com um trauma, com um abuso.
A escola é um mundo de fantasia. Não é prioridade aprender a se viver. Então onde aprendemos a viver?
📌É preciso saber para fazer.
Se você não sabe você não tem valor. A experimentação é cortada, você aprende a viver no império da sua mente. Como 'adulto' você deixa de fazer um monte de coisa porque 'não sabe'; Saber é a coisa mais valiosa do mundo, e o problema disso é que você reduz todas suas possibilidades de aprender apenas ao seu corpo mental. Isso exclui pessoas que aprendem de outras formas e exclui outros seres. Exclui o valor de estar com, exclui o valor de estar presente sem entender. Ser incompetente em algo é quase um xingamento.
Você se torna inabilitado a estar presente com coisas completamente inatendíveis e completamente desconhecidas. Você se torna limitado de estar presente e experienciar o amor, os grandes mistérios do universo, a intimidade, a comunidade, porque são coisas totalmente assustadoras e desconhecidas.
📌Uma cultura hierárquica
Alguns sabem e outros não. Mais especificamente os professores sabem e os alunos não. Os professores são adultos e podem "ensinar" as crianças. Controle, obediência.
Não temos adultos que tem a capacidade de amparar espaço para a transformação de outras pessoas e principalmente para seres humanos que ainda estão aprendendo a como serem seres humanos. Os professores não tem qualidades internas desenvolvidas (não é sobre técnica, ou ser mais profissional, é sobre ser humano) para amparar espaço para essas crianças. Precisamos de adultos para criar adultos.
📌Estude enquanto eles dormem
Um ritmo frenético para se tornar alguém na vida (tem alguma expressão mais ridícula do que essa?), uma competição consigo mesmo para ter um melhor desempenho. O corpo intelectual é o mais valorizado no mundo. Não existe sentimentos e emoções na educação assim como não tem espaço pra isso no trabalho. Não tem nutrição para nenhum dos outros corpos. Os corpos energético e emocional ficam completamente atrofiados. Corpo energético é sobre seu senso de espaço pessoal, seu senso de tempo, isso é meu isso é seu, não tem clareza sobre seus espaços, você não consegue criar o que venho criar no mundo porque está totalmente influenciados pelo mundo.
(Essas coisas que mencionei são apenas alguns, dos muitos elementos que compõem esse currículo que venho observando e pesquisando na minha vida pessoal e também pesquisando e observando como as escolas funcionam)
E de onde aprendemos tudo isso? Como você ainda carrega tudo isso na sua bagagem?
Só dessas coisas listadas acima, quantas delas está cotidianamente na sua vida? No seu trabalho? Na sua família? Na sua forma de pensar e agir?
Provavelmente você passou mais de uma década da sua vida dentro do sistema escolar que bloqueou e soterrou sua criatividade, autenticidade, espontaneidade, expressão, intimidade, vivacidade e muito mais. E ainda assim, você nem vê problema nisso, porque está muito anestesiado para sentir a dor que é ter sua humanidade assassinada. Não é sobre declarar guerra contra as escolas. É sobre sentir a dor que viver nesse constructo causa na sua vida.
Algo muda realmente quando a dor de permanecer é maior do que a dor de sair. Pra que eu escolhesse sair do constructo da escola foi necessário eu sentir toda a tristeza, o medo e a raiva de continuar a reproduzir ele na vida e em gaia. Durante o Laboratório Heal From School, houve um momento em que essa dor ficou tão dilacerante, tão grande, que ficou impossível permanecer nesse constructo.
O que me mantinha no constructo da escola era o medo de sair e ser excluída, ser vista como louca, ser rejeitada por não pensar como a maioria, passar fome, ficar sem dinheiro por escolher estar fora do sistema. Quando deixei crescer esses medos, sem tentar racionalizá-los, me dei conta de que na verdade o medo de permanecer nesse constructo e perder minha vivacidade, espontaneidade, liberdade, leveza, presença, autoridade, voz era muito maior do que o os medos de sair.
Além disso descobri os benefícios que tenho em me manter dentro da escola. Estar nesse constructo até hoje me permitiu manter-me pequena, na média e isolada, me fazer de burra em momentos e fingir que não sei a resposta de algo só pra manipular. Me permitiu julgar o trabalho dos outros de longe, comparando secretamente com algum ideal dos meus mundos de fantasias que me fazem competir loucamente para atingi-lo e que ao primeiro mínimo sinal de desacordo com o que eu esperava, eu poderia me ressentir desse ser criativo, espontâneo e grandioso e rejeitá-lo e ter motivos suficientes pra me vingar dele. Eu poderia fazer perguntas sorrateiras e estratégicas para manipular e controlar os outros para que assim pudessem expressar as minhas ideias, para assim eu não assumir os riscos sozinha. Permitiu eu provar constantemente que estou certa e que minhas ideias são geniais e que sou melhor que todo mundo. Esses foram alguns dos alimentos que descobri nesse treinamento que vem nutrindo a gremlin faminta que é a rainha do meu submundo.
Depois de acessar e sentir tudo isso, em todos os meus 5 corpos, eu fiz novas escolhas. Eu decidi deixar essa construção de que as ideias podem ser possuídas, de que errar é desprezível e de que meu valor está em fazer. Eu escolhi deixar essa ideia de que preciso provar e ser reconhecida e aplaudida, mesmo que tenha que passar por cima dos outros. Escolhi e escolho confiar na minha raiva para colocar meus limites de forma clara e manter o meu centro comigo, sem usá-lo como estratégia de manipulação. Escolhi e continuo escolhendo confiar no meu medo de ficar sem dinheiro para criar as formas mais divertidas, integras, criativas e autênticas de me cuidar e me sustentar. Estou escolhendo escrever e compartilhar os ouros que transbordaram nesse treinamento com a minha comunidade, deixando de ser uma loba solitária.
Isso não significa que os hábitos que criei vivendo anos nesse constructo escola simplesmente desapareceram depois desses 5 dias. Ainda estão aqui e ainda vai levar um tempo pra se remodelarem. É como querer utilizar uma argila que fazia um pote para agora fazer um brinquedo. O processo não é difícil, mas também não é instantâneo e leva um tempo para que a argila fique utilizável novamente. É preciso colocá-la em estado liquido, amolecer, e ir moldando a nova forma, aos poucos. Assim também é a construção de novos hábitos a partir de uma nova decisão; E o que molda a nova forma? Práticas. Praticar ao nível excepcional.
Uma das práticas que venho nutrindo e fazendo é: perguntar. Incessantemente e perigosamente. Fazer as perguntas mais inusitadas e aparentemente estranhas que saltam em mim, até mesmo pra pessoas estranhas, sem esperar e querer uma única resposta. Sem encontrar a resposta certa, ou a melhor. As perguntas são assassinadas nesse constructo da escola e estou disposta a recuperar essa capacidade do meu ser. As perguntas tem o poder supremo de conduzir a forma que pensamos. Por que você pensa o que pensa, e como pensa? Por que acredita que a cadeira é uma cadeira?
A fôrma determina a forma. Por isso, não é sobre criar novas escolas. É sobre atualizar a fôrma com que as escolas são feitas. Hoje muito se diz sobre novos métodos, novos espaços. No entanto, se fala muito pouco sobre o constructo, sobre o que está por detrás, sobre o propósito. Não adianta criar metodologias, espaços, estruturas, se a fôrma é a mesma. Na raiz se a fôrma não muda o resultado vai ser inevitavelmente o mesmo.
O constructo da escola é as raízes do patriarcado. É a conformação das mentes, humanas em fôrmas quadradas para servir a esse sistema doente. O propósito com que algo é criado se manifesta e fica até ser transformado. E o propósito determina o contexto, e o contexto determina o que é possível.
E qual é o real propósito da escola hoje? Se olharmos pra fôrma do design que está posto fica evidente que o propósito não foi atualizado. É o mesmo de 200 anos atrás quando ela foi criada a primeira vez. Transformar seres humanos em trabalhadores da indústria. Por mais que algumas escolas tragam correntes e linhas diferentes de pedagogias e metodologias, em essência, o propósito se mantém. O sumo ainda está na hierarquia, competição, superioridade, separação. Ainda é sobre avaliar e preparar alunos pra passar em vestibular e conseguir uma cadeira na universidade. As vigas constituintes ainda é esse mesmo constructo.
O propósito determina o que é possível. Então, para atualizar o que é possível ser feito na escola é preciso atualizar o propósito dela.
Qual poderia ser o propósito desse espaço de aprendizagem que eu nem sei se chamaria de escola (porque o nome traz a energia e se eu uso o nome escola imediatamente já vem o propósito que ela carrega durante todos esses anos.)
O propósito desse espaço em que crianças e jovens são colocados a maior parte de suas vidas poderia ser, por exemplo: espaço para nutrir e despertar a potência de cada semente.
O que diferencia uma semente de laranja pra uma laranja? A forma. Aparentemente são diferentes, mas uma está contida na outra. Pra uma semente nascer não é preciso mais informações. O gene já está lá. Ele só precisa ser despertada. Ela só precisa de adubo, água, sol, ar e tempo. Não precisa ser adicionado genes, melhorias, não precisa sofrer alterações, passar por provas, como vem sendo feito hoje pelos cientistas dos transgênicos. A educação pode ser sobre isso: criar as condições para que a semente germine.
Conversando com algumas pessoas sobre esse tema houveram frases como: 'É mas, a escola é importante, tem coisas que precisam ser mudadas, transformadas nela, mas não tem como querer destruir ela, ou mudar da noite pro dia'.
O ponto é que você não muda as coisas lutando contra ela, você muda algo construindo o novo, para que o velho se torne obsoleto. E construir o novo não precisa ser destruir o que já está. Não precisa ficar sentando esperado que essa nova educação tão esperada surja. O novo começa dentro de cada um. Começa na sua decisão de sair da escola. A construção desse novo começa com você se curando da escola. Começa com você deixando de ter que saber pra fazer as coisas. Começa com você fazendo coisas mesmo sabendo que vai errar. Começa com o seu compromisso de criar algo diferente na sua vida, na sua família, na sua vila, no seu coração. Começa com você parando de negar seu mundo sombrio e passando a reconhecê-lo, assumindo o compromisso de se tornar consciente da competição, da hierarquia, da manipulação que há em você.
A cura de um é a cura de todos e a construção de uma nova educação é a reconexão com o que é ser humano. Eu estou comprometida nessa jornada. Eu estou comprometida com o seu compromisso. E você?
Deixo aqui um convite sobre isso: a Jornada Desenformando da Escola. Será um espaço para você dar os primeiros passos para sair da fôrma da escola e recuperar sua voz, soberania, criatividade, vivacidade, e espontaneidade. O propósito desse espaço é atualizar seus mapas de pensamento sobre os sentimentos, para fazer as pazes com seu coração, e redescobrir uma nova forma de aprender e viver. Se você tem interesse em falar comigo, te convido a clicar aqui.
POSSIBILIDADES DE EXPERIMENTOS PARA VOCÊ SE CURAR DA ESCOLA
* Escolha 1 dia pra fazer tudo propositalmente errado. Escrever errado, falar o nome de referências errado, colocar a camisa do lado 'errado'. Durante todo o dia observe os feedbacks que as pessoas te dão e como você reage internamente a eles. Quais sentimentos surgem quando alguém diz: 'você escreveu essa palavra errada'. Você vai encontrar portas de emoções sobre o passado. Anote-as e se comprometa em conseguir um amparador de espaço para fazer um emotional healing process.
* Participe de um Expand The Box. É um espaço transformacional em que você vai aprender coisas fundamentais sobre ser humano, essas ferramentas vão te ajudar com certeza a sair da escola! Dia 15 de novembro vai acontecer um no Brasil, procura o @israelkairos pra saber mais e fazer sua inscrição.
* Escreva por uma semana todas comunicações que você não pôde completar por algum motivo. Pode ser com um professor, com um colega que você brigou, com sua mãe ou seu pai. Vai anotando uma por uma.
Toda comunicação que não é completada persiste. Você tem um monte de coisas não ditas que estão tirando sua energia e sua presença. Convida uma pessoa e vai cuidar disso.
Com Amor e Aventura,
Unfolding Essence Gabriela
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