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  • Gabriela Moreira

Escuridão sem fundamento

Escuridão, preto, sem qualquer luz, sem qualquer respiração.


Sentada numa cadeira. Coloco o meu pé no chão, está frio como metal congelado. Levanto-me, com os meus pés descalços, no chão. Nos meus pés há o peso dos meus ossos, dos meus músculos, dos meus órgãos e do meu corpo juntos, parece que esse peso nunca esteva acima desses pés. Parece que esta é a primeira vez que estou acima deles.


Escuridão, preto, sem qualquer luz.


Algo me empurra a perna e obriga-me a dar um passo. Uma pressão atrás de mim. Parece que estou perto mais próxima da escuridão escura. Alguma coisa empurra a minha outra perna. Mais uma vez sobre a outra perna. Estou a caminhar nesta escuridão. A frieza do meu pé sobe através do peso do meu corpo. Estou congelando de fora para dentro. Paro por um instante. Abro os meus ouvidos em vez dos meus olhos. Tento perceber mais do que os meus olhos podem ver. Movo a minha cabeça tentando encontrar algo para além da escuridão. Tudo o que consigo ouvir é escuro. Vazio, oco, sem substância.


Está escuro. Está negro. Não há luz.


Tentei usar as minhas mãos para tocar em alguma coisa. Mas também está congelado, por isso não consigo mexer-me. E mesmo o que me empurrava nas pernas, forçando-me a mexer, já não está lá. O medo começou a atravessar o meu corpo e a minha cabeça começou a tremer e a ficar tonta. Ondas de choque por todo o meu corpo. Quando isto vai acabar, não consigo mexer-me. E mesmo quando me conseguia mexer, o meu coração estava congelado. Estava a mover-me por causa deste empurrão. Não sei como andar sem este empurrão.


Entretanto, os meus pensamentos não estão congelados. Quando reparo que tudo está congelado, exceto os meus pensamentos, uma onda de medo atravessa a minha espinha enquanto o trovão se espalha por todo o meu corpo. O estômago está a tremer. Mas eu não me consigo mexer, está congelado. Os espasmos atravessam os músculos, mas está estagnado. O trovão não tem espaço para fluir, começa a arder no meu interior. A eletricidade fica presa nos meus músculos, nos meus ossos, no meu sangue. Os meus pensamentos começam a assustar-me e a enviar cada vez mais ondas de medo através do meu corpo e cada onda é como um trovão. Eu começo a queimar por dentro.


Antes, escuridão, preto, sem qualquer luz.Agora tornei-me fogo.


Trovão após trovão, o meu corpo começa a se destruir, flamejar. A escuridão é inundada por uma luz cintilante, flamejante e incontrolável. Acontece uma explosão. Do corpo congelado, tornei-me um corpo queimado no chão. Cinzas. O resto da minha vida. A morte.


No primeiro momento a partir das cinzas, olho à minha volta. E parece estar escuro, preto e sem qualquer luz novamente.


O silêncio. Nada. Morte. Do nada, uma força da natureza, imprevisível e irracional, começa a mover-se, a erguer-me, torno-me uma fênix das cinzas. A minha mente começa a correr e a correr em círculos a perguntar o que aconteceu. Uma mulher pássaro. Comecei a voar. As ondas em trovoada continuam a acontecer constantemente. Mas agora irradiam a luz em todas as direções. Já não há este congelamento, essa estagnação. A partir do trovão, ilumina-se a escuridão.


Os trovões começam a passar por mim e eu começo a ver o que os meus olhos não conseguem ver. E o que os ouvidos não conseguem ouvir. E toco o que a minha pele não consegue sentir. E é possível ter a electricidade da vida de volta. O meu coração já não está congelado. Eu voo.


Escuridão, preto. Mas agora, há luz.


A criação da luz ganha vida. O trovão neste Phoenix é irracional e imprevisível, radiante no céu e ilumina até os lugares do topo do globo. Mesmo os lugares que não têm qualquer luz. Tornei-me a luz.


Amor e Medo,

Florescedora da Essência Gabriela


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